Liderados pelo fundo de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), os acionistas controladores da Vale indicaram o administrador de empresas Murilo Pinto de Oliveira Ferreira, 58, ex-diretor da mineradora, para presidir a companhia em substituição a Roger Agnelli, no cargo desde 2001.
A escolha surpreendeu o mercado. O nome mais cotado era o do atual diretor-executivo de Metais Básicos da companhia, Tito Martins --que, como publicou a Folha na semana passada, foi indicado para o posto pelo Bradesco, principal acionista que não sofre influência direta do governo.
O bloco de controle da Vale é formado por Previ (a maior acionista, com 49% do capital), Bradesco (21,21%), a trading japonesa Mitsui (18,24%) e BNDESpar (11,51%). Ou seja, 60,5% das ações estão na esfera de influência do governo.
Só que, para formalizar a troca de comando da mineradora, são necessários 75% dos votos, o que obrigou o governo a compor com o banco privado.
O Bradesco temia ingerência política na Vale e preferiu, por isso, indicar o nome de um executivo do primeiro escalão da empresa.
Ferreira, porém, contava com a simpatia da presidente Dilma Rousseff, a quem conheceu enquanto estava na Vale. Ferreira trabalhou na empresa de 1977 a 2008.
Teve contato com Dilma quando ela era ministra de Minas e Energia e ele presidia a então subsidiária Albras --produtora eletrointensiva de alumínio.
Na avaliação de representantes de um acionista da Vale, Ferreira terá um perfil mais de executor das decisões do Conselho de Administração, enfraquecido na atual gestão.
Agnelli, que fica no cargo até o fim do mandato em 21 de maio, descolou-se demais dos acionistas controladores e impôs uma visão muito própria da estratégia da empresa --como focar investimentos no exterior e em minério de ferro, e não siderurgia, como queria o Planalto.
Seu foco era o retorno ao investidor, mesmo que isso contrariasse o governo.
Em 2007, Ferreira assumiu a presidência da Vale Inco, subsidiária canadense de níquel, cujo processo de aquisição havia liderado um ano antes. Saiu em 2008 da Vale alegando problemas de saúde. Ferreira, porém, desentendeu-se com Agnelli, que queria uma gestão mais dura especialmente na área de recursos humanos.
O executivo foi sucedido na Inco justamente por Tito Martins, com quem disputou agora a presidência da mineradora. Ferreira desbancou ainda outro diretor-executivo da Vale, José Carlos Martins (Marketing e Vendas), que corria por fora. Os três nomes constavam da lista tríplice elaborada por uma consultoria internacional, formalidade exigida pelo acordo de acionistas.
Leia abaixo a íntegra do comunicado emitido pela Vale na noite desta segunda-feira:
A Vale S.A. (Vale) informa que após reunião prévia realizada hoje, os acionistas controladores da Valepar --Litel, Bradespar, BNDESpar, Mitsui e Elétron-- comunicaram à Vale a indicação de Murilo Pinto de Oliveira Ferreira para assumir o posto de Diretor Presidente da Vale, a partir de 22 de maio de 2011, após o término do mandato do atual Diretor Presidente, Roger Agnelli. A indicação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração da Vale em reunião a ser convocada e realizada oportunamente.
Murilo Ferreira, 58 anos, é graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP, pós-graduado em Administração e Finanças pela FGV-RJ e especialização em M&A pela IMD Business School, Lausanne, Suíça. Com mais de 30 anos de experiência no setor de mineração, Murilo Ferreira ingressou na Vale em 1998 como Diretor da Vale do Rio Doce Alumínio - Aluvale, atuando em diversos cargos executivos até sua saída em 2008, quando atuava como Presidente da Vale Inço (atual Vale Canadá) e Diretor Executivo de Níquel e Comercialização de Metais Base da Vale.
Murilo Ferreira foi indicado pelos acionistas controladores a partir de uma lista tríplice preparada por empresa internacional de seleção de executivos, em conformidade com as normas e o Estatuto da Valepar.
Nesta oportunidade, os acionistas da Valepar reiteram seu reconhecimento ao Roger Agnelli pelo sucesso na condução da Vale nesses últimos anos, contribuindo para que a Vale alcançasse a posição de destaque que desfruta atualmente, no País e no exterior.
Rio de Janeiro, 4 de abril de 2011
Guilherme Perboyre Cavalcanti
Diretor Executivo de Relações com Investidores
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