Jornalistas de uma das maiores redações do Norte param em greve histórica
Trabalhadores do Diário do Pará, grupo de Jader Barbalho, reivindicam o estabelecimento de um piso salarial mais justo, implantação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração e pagamento de hora-extra, entre outros direitos
Eu poderia comentar essa notícia com muito orgulho, pela capacidade e força de mobilização dos meus colegas. Mas confesso que, apesar delas, no fundo, sinto é tristeza e revolta de ver que um grupo de comunicação de posse de um senador da República precisa chegar ao extremo de uma greve para reconhecer direitos básicos de trabalhadores, como o pagamento do piso salarial.
Nós, jornalistas, quase nunca somos notícia. E quando a somos, é porque fomos vítimas de nossas pautas: agressões em protestos, traficantes que nos descobriram numa cobertura, político que mandou nos executar por vingança de uma denúncia. Nossas dores diárias nunca são notícia. A sociedade não imagina que por trás do glamour do jornalismo, somos mal pagos, contratados de forma precária, não temos plano de carreira e, raras vezes, temos plano de saúde e ganhamos adicionais noturno ou de periculosidade.
Muito corajosa a luta que os colegas de Belém estão travando na campanha Jornalista Vale Mais, iniciada pelo Sindicato dos Jornalistas do Pará (SINJOR), e que no último mês realizou atos em frente a redações de jornais e emissoras de televisão. Já há demitidos no Diário do Pará em retaliação ao movimento, mas eles seguem firmes e chegaram hoje à paralisação.
É isso aí, galera! Parabéns pela coragem de lutar por vocês e por toda uma categoria que, historicamente, aguentou calada tantas dores.
Informações oficiais sobre a greve podem ser encontradas na fanpage do movimento: https://www.facebook.com/grevediarioedol
Carta aberta à direção do grupo RBA de Comunicação
Nós, jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL), com o apoio do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor), declaramos à direção do grupo RBA de Comunicação que estamos em franca campanha por melhores condições de trabalho, remuneração, pelo fim da superexploração da nossa mão de obra, da intimidação e assédio moral que enfrentamos diariamente. Exigimos a abertura imediata das negociações entre a direção desta empresa e seus trabalhadores para a avaliação da nossa pauta de reivindicações, anexa a esta carta. Também exigimos a imediata interrupção dos processos de demissão em curso e todo tipo de retaliação a funcionários que se manifestam a favor de melhores condições trabalhistas.
Informamos aos diretores desta empresa e a todos os colegas jornalistas, de todos os veículos de comunicação do Pará e do Brasil, que não ficaremos mais calados diante de todas as atrocidades que enfrentamos para realizar nosso trabalho. Nenhum de nós se conformará com um salário líquido que não chega a mil reais, com as frequentes horas extras nunca pagas, com cadeiras e computadores sucateados, que prejudicam nossa saúde com cada vez mais gravidade, com a falta até mesmo de água potável na copa e de papel higiênico nos banheiros.
Nenhum de nós reproduzirá novamente o discurso de que “é normal o jornalista trabalhar muito e ganhar pouco”. Uma miséria, na realidade. Não é normal! Não deixaremos mais que nosso sofrimento como trabalhadores seja ocultado por todos os prêmios conquistados a duras penas e que fazem o Diário do Pará se autointitular como “o jornal mais premiado do mundo”. Estamos aqui para denunciar que essas conquistas se devem ao suor de homens e mulheres que sequer ganham o bastante para se alimentar com decência todos os dias do mês. Tampouco deixaremos que a ameaça de demissão e o assédio moral voltem a calar qualquer um de nós.
Com o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor) em nossa retaguarda, denunciaremos toda tentativa de desrespeito à nossa dignidade como seres humanos e trabalhadores. Defenderemos aguerridamente todas as reivindicações contidas em nossa pauta e não arrefeceremos nem nos intimidaremos até que haja uma negociação efetiva entre a direção desta empresa e seus funcionários, com ganhos reais para nossa categoria. Usaremos de todos os instrumentos trabalhistas, políticos e jurídicos para que nossa causa nunca mais volte a ser ignorada.
À sociedade em geral, que diariamente consome a informação que nós produzimos, reafirmamos o compromisso com a qualidade do nosso trabalho, porque entendemos que a informação séria, produzida com responsabilidade, é a base para a sociedade democrática que todos desejamos construir. Conclamamos a todos os colegas de profissão, trabalhadores, estudantes, movimentos sociais e sindicais para que nos ajudem a ampliar nossa voz diante de todas as mazelas aqui expostas. Queremos que a família Barbalho entenda que o compromisso com a informação de qualidade não pode ser menosprezado e, com isso, se disponha a garantir um mínimo de condições decentes para que seus funcionários cumpram com sua função social de informar bem a nossa população.
Pauta de reivindicações dos jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL)
1 – Piso salarial de R$ 1.908,25 para todos os jornalistas que trabalham no jornal Diário do Pará e no Diário Online, lotados nas funções de Repórter, Repórter Fotográfico, Produtor, Webjornalista, Diagramador, Ilustrador e Multimídia. Com progressão a cada ano de trabalho efetivo, partindo da categoria A à categoria C.
2 – Queremos o estabelecimento de um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR), com estabelecimento de categorias A, B e C para todas as funções referidas no item anterior.
3 – Incluir editores do Diário do Pará e coordenadores do Diário Online no Acordo Coletivo 2013, estabelecendo piso salarial para tais categorias com acréscimo de 40% sobre o piso salarial de repórter.
4 – Instituir o tíquete-alimentação de R$ 253,25. Esta é a estimativa da cesta básica deste ano feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese.
5 – Reintegração ao quadro de funcionários da empresa do repórter Leonardo Fernandes, lotado no caderno Você do jornal Diário do Pará. Esta comissão de jornalistas considera que a demissão do funcionário é uma clara retaliação a nossa iniciativa de reivindicar melhorias salariais e em nossas condições de trabalho.
6 – Propomos uma avaliação dos dados do quadro funcional do Diário do Para e do Diário Online nos últimos 12 meses para saber se foram feitas todas as reposições dos postos de trabalho ou se está havendo sobrecarga de atividades aos jornalistas e estagiários que trabalham na empresa.
7 – Manifestamos nosso desejo de que seja incluído no acordo coletivo o início de uma discussão com a direção do jornal para a construção de uma proposta de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) como forma de recompensa pela nossa participação nos lucros da empresa.
8 – Também queremos que a empresa reinstitua o pagamento de biênio em percentuais de reajuste que diferenciam o salário dos novatos para os mais experientes que o Diário do Pará já pagou para seus funcionários como política de incentivo.
9 – Propomos a participação dos funcionários na implantação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) que será implantado no grupo RBA.
10 – Igualar as remunerações de quem trabalha no interior do Estado com quem trabalha em Belém.
11 – Equipamentos de segurança para todos os jornalistas que fazem cobertura policial, incluindo os que cobrem somente em escalas.
Trabalhadores do Diário do Pará e Diário Online (DOL)
Belém, Pará, 18 de setembro de 2013
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