Lula diz que agressões a Dilma aumentaram disposição para a campanha
Por Edson Luiz, da Agência PT de Notícias
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu empenho da militância do PT para eleger a presidenta Dilma Rousseff. Ele falou sobre as qualidades de sua sucessora, que sofreu durante a ditadura, mas que se tornou chefe da Nação. Lula afirmou que é necessário mostrar, principalmente para os mais jovens, o trabalho e as mudanças realizadas nos últimos anos.
“Está chegando o momento, Dilma, em que a gente vai provar, mais uma vez, que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem o mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois”, disse Lula na abertura de seu discurso, durante a convenção nacional do PT, neste sábado (21), em Brasília. No evento, foi confirmada a candidatura da presidenta à reeleição.
“É uma demonstração que é possível o criador e criatura viverem juntos em harmonia”, completou.
Antes de começar sua fala, o ex-presidente fez a apresentação de um vídeo onde uma catadora de papel de Minas Gerais elogia a festa ocasionada pela Copa do Mundo. Lula usou o depoimento para mostrar que os ataques sofridas por Dilma durante a abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, partiu de uma minoria que não acreditava que tudo estaria funcionando até o início da competição.
“Eles nunca acreditaram que a Dilma pudesse ser presidenta da República”, afirmou Lula.
Ele afirmou que as agressões à presidenta deram a ele ainda mais disposição para fazer a campanha de Dilma.
Segundo o ex-presidente, todos os dias o governo tem que dar lições para a oposição, fazendo coisas que eles nunca fizeram em anos passados. Lula afirmou que as eleições deste ano serão difíceis, mas esse discurso será mudado. Ele ressaltou que o PT defende um projeto que não é do partido nem dele próprio, mas que já vem de muitos anos.
“É um projeto de pessoas que queriam mudanças no País e que morreram por causa disso”, afirmou Lula, citando alguns políticos como exemplo e cidadãos que lutaram pela democratização do País.
“A Dilma sobreviveu a isso e veio para governar o País e provar que é possível fazer coisas que antes nunca fizeram”, observou o ex-presidente.
Ele pediu à militância que mostre para os brasileiros o que foi feito pelo governo em 12 anos. Ele deu vários exemplos de realizações, como os programas sociais, habitação e melhoria na educação, entre outros, ressaltando que a população subiu mais degraus na escala social.
“Em todo século 20, eram três milhões de estudantes, e em 12 anos, elevamos para sete milhões”, exemplificou. Além disso, Lula falou sobre o combate à corrupção, afirmando que o governo do PT foi o que mais criou mecanismos para acabar com este tipo de crime no País.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu empenho da militância do PT para eleger a presidenta Dilma Rousseff. Ele falou sobre as qualidades de sua sucessora, que sofreu durante a ditadura, mas que se tornou chefe da Nação. Lula afirmou que é necessário mostrar, principalmente para os mais jovens, o trabalho e as mudanças realizadas nos últimos anos.
“Está chegando o momento, Dilma, em que a gente vai provar, mais uma vez, que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem o mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois”, disse Lula na abertura de seu discurso, durante a convenção nacional do PT, neste sábado (21), em Brasília. No evento, foi confirmada a candidatura da presidenta à reeleição.
“É uma demonstração que é possível o criador e criatura viverem juntos em harmonia”, completou.
Antes de começar sua fala, o ex-presidente fez a apresentação de um vídeo onde uma catadora de papel de Minas Gerais elogia a festa ocasionada pela Copa do Mundo. Lula usou o depoimento para mostrar que os ataques sofridas por Dilma durante a abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, partiu de uma minoria que não acreditava que tudo estaria funcionando até o início da competição.
“Eles nunca acreditaram que a Dilma pudesse ser presidenta da República”, afirmou Lula.
Ele afirmou que as agressões à presidenta deram a ele ainda mais disposição para fazer a campanha de Dilma.
Segundo o ex-presidente, todos os dias o governo tem que dar lições para a oposição, fazendo coisas que eles nunca fizeram em anos passados. Lula afirmou que as eleições deste ano serão difíceis, mas esse discurso será mudado. Ele ressaltou que o PT defende um projeto que não é do partido nem dele próprio, mas que já vem de muitos anos.
“É um projeto de pessoas que queriam mudanças no País e que morreram por causa disso”, afirmou Lula, citando alguns políticos como exemplo e cidadãos que lutaram pela democratização do País.
“A Dilma sobreviveu a isso e veio para governar o País e provar que é possível fazer coisas que antes nunca fizeram”, observou o ex-presidente.
Ele pediu à militância que mostre para os brasileiros o que foi feito pelo governo em 12 anos. Ele deu vários exemplos de realizações, como os programas sociais, habitação e melhoria na educação, entre outros, ressaltando que a população subiu mais degraus na escala social.
“Em todo século 20, eram três milhões de estudantes, e em 12 anos, elevamos para sete milhões”, exemplificou. Além disso, Lula falou sobre o combate à corrupção, afirmando que o governo do PT foi o que mais criou mecanismos para acabar com este tipo de crime no País.
Militância reafirma candidatura de Dilma à Presidência
Por Alessandra Fonseca, da Agência PT de Notícias
O sentimento de companheirismo e reencontro marcou a Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). Militantes do País inteiro estiveram presentes na oficialização da campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Na manhã deste sábado (21), o Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, foi pequeno para as quase 700 pessoas empolgadas e certas de mudança.
Delegados dos 27 estados compareceram ao evento que marca o início da corrida eleitoral de 2014. O presidente Nacional do PT, Rui Falcão, destacou a importância da “militância fervorosa do PT” na transformação brasileira, nas ruas e nas redes. “Nossa vitória depende de cada um de vocês”, disse Rui Falcão.
A assistente social do Recanto das Emas (DF), Lucimar Martins, disse acreditar no PT porque sabe que só ele é capaz de trazer as melhorias necessárias ao País. “É diferente trabalhar com um governo com programas concretos contra a pobreza”, afirmou.
Para a coordenadora da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia, Marta Rodrigues, o trabalho realizado pela presidenta Dilma Rousseff em defesa da mulher a faz querer continuar nas lutas junto com o PT. “As conquistas das mulheres nos últimos anos foram gigantes, em especial no combate à violência contra mulher”, afirmou Marta.
Além da presidenta Dilma Rousseff, estiveram presentes o ex-presidente Lula, governadores, partidários e aliados. Na ocasião, os delegados e delegadas do PT homologaram a candidatura de Dilma e do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
O sentimento de companheirismo e reencontro marcou a Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). Militantes do País inteiro estiveram presentes na oficialização da campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Na manhã deste sábado (21), o Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, foi pequeno para as quase 700 pessoas empolgadas e certas de mudança.
Delegados dos 27 estados compareceram ao evento que marca o início da corrida eleitoral de 2014. O presidente Nacional do PT, Rui Falcão, destacou a importância da “militância fervorosa do PT” na transformação brasileira, nas ruas e nas redes. “Nossa vitória depende de cada um de vocês”, disse Rui Falcão.
A assistente social do Recanto das Emas (DF), Lucimar Martins, disse acreditar no PT porque sabe que só ele é capaz de trazer as melhorias necessárias ao País. “É diferente trabalhar com um governo com programas concretos contra a pobreza”, afirmou.
Para a coordenadora da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia, Marta Rodrigues, o trabalho realizado pela presidenta Dilma Rousseff em defesa da mulher a faz querer continuar nas lutas junto com o PT. “As conquistas das mulheres nos últimos anos foram gigantes, em especial no combate à violência contra mulher”, afirmou Marta.
Além da presidenta Dilma Rousseff, estiveram presentes o ex-presidente Lula, governadores, partidários e aliados. Na ocasião, os delegados e delegadas do PT homologaram a candidatura de Dilma e do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Quem tem medo da participação popular?
Do Brasil 247
O papel, como se sabe, aceita tudo. Neste momento, em editorais como o da edição atual da revista Veja, do empresário Gianca Civita, no rancor de um dos herdeiros do que vai restando do jornal O Estado de S. Paulo, Fernão Mesquita, e em diferentes páginas da mídia tradicional e familiar, o papel está aceitando uma grande distorção factual provocada pelo viés ideológico. Trata-se do enfoque dado ao decreto 8,243, assinado no mês passado pela presidente Dilma Rousseff, que estabelece a Política Nacional de Participação Popular.
Classificado como a criação de soviets no Brasil, de ultrapassagem dos poderes constitucionais do Congresso e, é claro, de "golpe contra a democracia", o decreto nem sequer dá abertura para este tipo de teoria da conspiração. Na medida em que reconhece os conselhos populares como fontes capazes de formular e garantir a aplicação de políticas sociais, a iniciativa simplesmente dá praticidade a diferentes artigos da Constituição de 1988. O texto central da democracia brasileira estabelece como forma legítima de participação da população a criação de organismos para o maior ativismo social. Nada de novo em relação ao que os constituintes eleitos pelo povo deixaram em aberto 26 anos atrás. Cabia tanto à sociedade quanto ao governo tornar aquelas palavras em verdade material. É o que aconteceu agora.
No ano passado, quando as manifestações de junho alertaram todo o País sobre as muitas fissuras existentes entre o desejo popular e a realização oficial, formou-se um consenso em torno da necessidade de se dinamizar formas de maior participação coletiva nas instâncias decisórias. Pensou-se até mesmo em candidaturas avulsas à Presidência da República. Todas as ilações extraídas das passeatas foram respeitadas pela mídia tradicional, atenta à imensa perda de leitores que uma trombada com as ruas iria provocar.
De uma hora para outra, a mesma Veja agora taxa de soviets o que, na verdade, são associações de moradores de bairros de grandes cidades, entidades de classe formadas à margem dos sindicatos cartoriais e formações legítimas do público em torno de suas realidades locais. Antes, porém, diante do calor emanado pelas ruas, cobrava-se uma ligação maior entre o governo e as massas – e dizia-se, com todas as letras, que isso não seria feito com êxito apenas por meio da eleição de vereadores, deputados, senadores e cargos executivos como os de prefeitos, governadores e presidente. Não houve que não avaliasse, corretamente, que era preciso ampliar a forma de representatividade do governo nas cúpulas decisórias.
É exatamente essa ampliação de representatividade com legitimidade que o decreto 8.243 oferece à sociedade. Mais uma válvula de escape, mais um canal de diálogo. Em lugar de golpe contra a democracia, como situa Fernão Mesquita, o ex-diretor do finado Jornal da Tarde, que ele próprio conduziu ao abismo, o que se tem é exatamente o contrário. O gesto da presidente Dilma, ainda mais corajoso na medida que, já se sabia, insere mais um ruído contra ela na mídia tradicional, apenas aprofunda e dissemina a democracia brasileira.
Até os Estados Unidos, maior democracia do mundo, já estudam estabelecer a prática de orçamento participativo em suas ações de governo. Na Europa, as consultas populares diretas são frequentes na forma de plebiscitos e referendos. A Política Nacional de Participação Popular segue nessa mesma direção. O público que está organizado ou passar a se organizar em torno de bandeiras próprias e específicas sabe, a partir de agora, que jamais estará agindo de maneira clandestina ou ilegal e, mais ainda, recebe um mecanismo constitucional, criado à luz do dia, para exprimir e fazer valer suas necessidades. O que se vê além disso, como comunismo ou bolivarianismo, são apenas manifestações do atávico, histórico medo que as elites do povo. Era esperado.
O papel, como se sabe, aceita tudo. Neste momento, em editorais como o da edição atual da revista Veja, do empresário Gianca Civita, no rancor de um dos herdeiros do que vai restando do jornal O Estado de S. Paulo, Fernão Mesquita, e em diferentes páginas da mídia tradicional e familiar, o papel está aceitando uma grande distorção factual provocada pelo viés ideológico. Trata-se do enfoque dado ao decreto 8,243, assinado no mês passado pela presidente Dilma Rousseff, que estabelece a Política Nacional de Participação Popular.
Classificado como a criação de soviets no Brasil, de ultrapassagem dos poderes constitucionais do Congresso e, é claro, de "golpe contra a democracia", o decreto nem sequer dá abertura para este tipo de teoria da conspiração. Na medida em que reconhece os conselhos populares como fontes capazes de formular e garantir a aplicação de políticas sociais, a iniciativa simplesmente dá praticidade a diferentes artigos da Constituição de 1988. O texto central da democracia brasileira estabelece como forma legítima de participação da população a criação de organismos para o maior ativismo social. Nada de novo em relação ao que os constituintes eleitos pelo povo deixaram em aberto 26 anos atrás. Cabia tanto à sociedade quanto ao governo tornar aquelas palavras em verdade material. É o que aconteceu agora.
No ano passado, quando as manifestações de junho alertaram todo o País sobre as muitas fissuras existentes entre o desejo popular e a realização oficial, formou-se um consenso em torno da necessidade de se dinamizar formas de maior participação coletiva nas instâncias decisórias. Pensou-se até mesmo em candidaturas avulsas à Presidência da República. Todas as ilações extraídas das passeatas foram respeitadas pela mídia tradicional, atenta à imensa perda de leitores que uma trombada com as ruas iria provocar.
De uma hora para outra, a mesma Veja agora taxa de soviets o que, na verdade, são associações de moradores de bairros de grandes cidades, entidades de classe formadas à margem dos sindicatos cartoriais e formações legítimas do público em torno de suas realidades locais. Antes, porém, diante do calor emanado pelas ruas, cobrava-se uma ligação maior entre o governo e as massas – e dizia-se, com todas as letras, que isso não seria feito com êxito apenas por meio da eleição de vereadores, deputados, senadores e cargos executivos como os de prefeitos, governadores e presidente. Não houve que não avaliasse, corretamente, que era preciso ampliar a forma de representatividade do governo nas cúpulas decisórias.
É exatamente essa ampliação de representatividade com legitimidade que o decreto 8.243 oferece à sociedade. Mais uma válvula de escape, mais um canal de diálogo. Em lugar de golpe contra a democracia, como situa Fernão Mesquita, o ex-diretor do finado Jornal da Tarde, que ele próprio conduziu ao abismo, o que se tem é exatamente o contrário. O gesto da presidente Dilma, ainda mais corajoso na medida que, já se sabia, insere mais um ruído contra ela na mídia tradicional, apenas aprofunda e dissemina a democracia brasileira.
Até os Estados Unidos, maior democracia do mundo, já estudam estabelecer a prática de orçamento participativo em suas ações de governo. Na Europa, as consultas populares diretas são frequentes na forma de plebiscitos e referendos. A Política Nacional de Participação Popular segue nessa mesma direção. O público que está organizado ou passar a se organizar em torno de bandeiras próprias e específicas sabe, a partir de agora, que jamais estará agindo de maneira clandestina ou ilegal e, mais ainda, recebe um mecanismo constitucional, criado à luz do dia, para exprimir e fazer valer suas necessidades. O que se vê além disso, como comunismo ou bolivarianismo, são apenas manifestações do atávico, histórico medo que as elites do povo. Era esperado.
terça-feira, 3 de junho de 2014
Lula: "No segundo mandato a Dilma terá de fazer coisas novas"
Da Carta Capital
Antes de mais nada, impressiona a paixão. Aos 68 anos, Luiz Inácio Lula da Silva não perdeu o vigor com que arengava à multidão reunida no gramado da Vila Euclides no fim dos anos 70. E nos momentos em que sustenta algo capaz de empolgá-lo, ocorrência frequente, aperta com força metalúrgica o pulso do entrevistador mais próximo, como se pretendesse transmitir-lhe fisicamente sua emoção. Assim se deu nesta longa entrevista que o ex-presidente Lula deu a CartaCapital. No caso de Mino, esta foi mais uma das inúmeras, a começar pela primeira, em janeiro de 1978.
CartaCapital: O senhor enxerga alguma relação entre a Copa do Mundo e a eleição? Se enxerga, por que e de que maneira?
Lula: Eu acho difícil imaginar que a Copa do Mundo possa ter qualquer efeito sobre a preferência por este ou aquele candidato. Por outro lado, se o Brasil perder, acho que teremos um desastre similar àquele de 1950. Temo uma frustração tremenda, e a gente não sabe com que resultado psicológico para o povo. Em 50 jogaram o fracasso nas costas do goleiro Barbosa.
CC: Em primeiro lugar do Bigode.
Lula: O Barbosa carregou por 50 anos a responsabilidade, e morreu muito pobre, com a fama de ter sido quem derrotou o Brasil. É uma vergonha jogar a culpa num jogador. Se o Brasil ganha, a campanha passa a debater o futuro do País e o futebol vai ficar para especialistas como eu.
CC: E as chamadas manifestações?
Lula: Ainda há pouco tempo a gente não esperava que pudessem acontecer manifestações. E elas aconteceram sem qualquer radicalização inicial, porque as pessoas reivindicavam saúde padrão Fifa, educação padrão Fifa, poderiam ter reivindicado saúde padrão Interlagos, quando há corrida, ou padrão de tênis, Wimbledon, na hora do tênis. Eu acho que isso é até saudável, o povo elevou seu padrão reivindicatório. E é plenamente aceitável dentro do processo de consolidação democrático que vive o Brasil. Eu acho que, ao realizar a Copa, o governo assumiu o compromisso de garantir o bem-estar e a segurança dos brasileiros e dos torcedores estrangeiros. Quem quiser fazer passeata que faça, quem quiser levantar faixa, que levante, mas é importante saber que, assim como alguém tem o direito de protestar, o cidadão que comprou o ingresso e quer ir ver a Copa tenha a garantia de assistir aos jogos em perfeita paz.
CC: O povo brasileiro amadureceu e nós entendemos que o resultado da Copa será bem menos importante do que foi em 1950. Mesmo que a Seleção perca, não haverá tragédia. Deste ponto de vista. Efeitos sobre as eleições podem ocorrer em função das chamadas manifestações.
Lula: Eu tenho certeza de que a presidenta Dilma e os governos estaduais estão tomando toda a responsabilidade para garantir a ordem. Com isso podemos ficar tranquilos, é questão de honra para o governo brasileiro. O que está em jogo é também a imagem do Brasil no exterior. De qualquer maneira, acho que não vai ter violência, e, se houver será tão marginal a ponto de ser punida pela própria sociedade. Agora se um sindicato quer fazer uma faixa “abaixo não sei o quê, 10% de aumento”, é seu direito. Eu me lembro que disse ao ministro José Eduardo Cardozo, quando começou a se aventar a possibilidade de uma lei contra os mascarados: “Olha, gente, nem brincar com lei contra mascarados porque a primeira coisa que iremos prejudicar vai ser o Carnaval, não os mascarados”. A Constituição e o Código Penal definem claramente o que é ordem e o que é desordem e, portanto, o governo tem mecanismos para evitar qualquer abuso. Recomenda-se senso comum. Nesses dias tentaram até confundir uma frase minha sobre uma linha de metrô até os estádios. Em 1950, no Maracanã cabiam 200 mil pessoas, mais de duas vezes as assistências atuais. É verdade, havia menos carros nas ruas, infinitamente menos carros, mas também não havia metrô.
CC: De todo modo, vale a pena realizar uma Copa?
Lula: Discordo daqueles que defendem a Copa no Brasil dizendo que vão entrar 30 bilhões, ou que geraremos novos empregos. O problema não é econômico. A Copa do Mundo vai nos permitir, no maior evento de futebol do mundo, mostrar a cara do Brasil do jeito que ele é. O encontro de civilizações, o resultado dessa miscigenação extraordinária entre europeus, negros e índios que criou o povo brasileiro. Qual é o maior patrimônio que temos para mostrar? A nossa gente.
CC: Em que medida essas manifestações nascem do fato de que houve uma ascensão econômica? Aqueles que melhoraram de vida reivindicam mais saúde, mais educação.
Lula: Eu acho que não há apenas uma explicação para o que está acontecendo. Precisamos aprender a falar com o povo, para que entenda o momento histórico. O jovem hoje com 18 anos tinha 6 anos quando ganhei a primeira eleição, 14 anos quando deixei de ser presidente da República. Se ele tentar se informar pela televisão, ele é analfabeto político. Se tentar se informar pela imprensa escrita, com raríssimas exceções, ele também será um analfabeto político. A tentativa midiática é mostrar tudo pelo negativo. Agora, se nós tivermos a capacidade de dizer que certamente o pai dele viveu num mundo pior do que o dele, e se começarmos a mostrar como a mudança se deu, tenho certeza de que ele vai compreender que ainda falta muito, mas que em 12 anos passos adiante foram dados.
CC: O governo não soube se comunicar?
Lula: Eu acho. Eu de vez em quando gosto de falar de problema histórico, para a gente entender o que de fato aconteceu neste país. Já disse e repito: Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo, em 1492, e em 1507 ali surgia a primeira faculdade. No Peru, em 1550, na Bolívia, em 1624. O Brasil ganhou a primeira faculdade com dom João VI, mas a primeira universidade somente em 1930. Então você compreende o nosso atraso. Qual é nosso orgulho? Primeiro, em 100 anos, o Brasil conseguiu chegar a 3 milhões de estudantes em universidades. Nós, em 12 anos, vamos chegar a 7,5 milhões de estudantes, ou seja, em 12 anos, nós colocamos mais jovens na universidade do que foi conseguido em um século. Escolas técnicas. De 1909 até 2002, foram inauguradas 140. Em 12 anos, nós inauguramos 365. Ou seja, duas vezes e meia o número alcançado em um século. E daí você consegue imaginar o que significa o Reuni ao elevar o número de alunos por sala de aula, de 12 para 18. Ou o que significa o Ciência Sem Fronteiras, o Fies: 18 universidades federais novas. Pergunta o que o Fernando Henrique Cardoso fez? Se você pensar em 146 campi novos, chegará à conclusão de que foi preciso um sem diploma na Presidência da República para colocar a educação como prioridade neste País. Nós triplicamos o Orçamento da União para a educação. É pouco? É tão pouco que a presidenta Dilma já aprovou a lei permitindo 75% dos royalties para a educação. É tão pouco que a Dilma criou o Ciência Sem Fronteira para levar 65 mil jovens a estudar no exterior. É tão pouco que ela criou o Pronatec, que já tem 6 milhões de jovens se preparando para exercer uma profissão. Isso tudo estimula essa juventude a querer mais. Tem de querer mais. Quanto mais ela reivindicar, mais a gente se sente na obrigação de fazer. Quem comia acém passou a comer contrafilé e agora quer filé. E é bom que seja assim, é bom que as pessoas não se nivelem por baixo. Eu sempre fui contra a teoria de que é melhor pingar do que secar. Quanto mais o povo for exigente e reivindicar, forçará o governo a fazer mais.
O que é ruim? A hipocrisia. Nós temos um setor médio da sociedade, que ficou esmagado entre as conquistas sociais da parte mais pobre da população e os ricos, que ganharam dinheiro também. A classe média, em vários setores, proporcionalmente ganhou menos. Toda vez que um pobre ascende um degrau, quem está dez degraus acima acha que perdeu algumas coisas. A Marilena Chauí tem uma tese que eu acho correta: um setor da classe média brasileira que às vezes também é progressista, do ponto de vista social, mas não aprendeu a socializar os espaços públicos e então fica incomodado.
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