O Datafolha já informou que três em cada quatro brasileiros adultos desejam que a Câmara diga ‘tchau, querido’ para Eduardo Cunha. O plenário do STF concluiu, por 11 votos a zero, que a permanência do personagem “no livre exercício de seu mandato parlamentar e à frente da função de presidente da Câmara é um pejorativo que conspira contra a própria dignidade da instituição.” Suspendeu-o das funções. Entretanto, um pedaço ainda majoritário da Câmara avalia que o povo e a Suprema Corte se enganaram em suas avaliações.
Em vez de dar prioridade à cassação do mandato de Eduardo Cunha, a Câmara —autoconvertida numa instituição meio entreposto, meio bordel— se apressa em definir as mordomias que serão asseguradas à indignidade. Coisas como salário mensal de R$ 33,7 mil, guardacostas, carro na garagem, avião no hangar, casa à beira do lago, comida, roupa lavada e todas as facilidades que o dinheiro público for capaz de bancar. E quanto ao processo de cassação? Sem novas manobras, talvez chegue ao plenário da Câmara no final de junho. Com manobras, Deus sabe!
Cunha repetiu a pelo menos três interlocutores nas úlimas 72 horas que não renunciará nem à poltrona de presidente nem ao mandato de deputado. Com isso, impede os colegas de organizar a eleição de um substituto. Está empenhado em impor à Câmara o vexame adicional de ser presidida por Waldir Maranhão (PP-MA), uma espécie de nulidade com o prontuário enganchado na Lava Jato. Cleptoaliado de Cunha, o interino já esteve com quem lhe dará as ordens. Conversou com o presidente afastado pessoalmente e por telefone.
Aliados de Cunha no impeachment de Dilma, quatro partidos de oposição —PSDB, DEM, PPS e PSB— voltam a se reunir na noite desta segunda-feira (9) para tentar achar uma forma de se livrar dele. Na outra ponta, nove legendas ainda se dispõem a permanecer ao lado da perversão. Entre elas PMDB, PP e PR. Na bica de tornar-se presidente da República, Michel Temer, correligionário de luxo de Cunha, poderia ajudar a remover o entulho. Mas já sinalizou que prefere a omissão.
À boca miúda, Cunha diz que sabe o que Temer, a cúpula do PMDB e metade do Congresso fizeram no verão passado. Daí a rede de conivência. Ao assegurar a sobrevida de Cunha mesmo depois da decisão histórica do STF, o conglomerado político que desgoverna o Brasil emite um atestado de inconsequência. Cunha vai se tornando o símbolo da licença que a política concede a si mesma para se reabsolver dos seus crimes. Assegura a reincidência. Mas é um péssimo exemplo para as crianças.
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