FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
Em nota oficial divulgada nesta segunda-feira (3), a presidente Dilma Rousseff rebateu artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em que ele acusa o antecessor da presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, de deixar uma "herança pesada" para ela.
No texto, publicado neste fim de semana nos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", FHC cita o episódio do mensalão, a "desorientação da política energética" de Lula e a "crise moral" no primeiro ano de gestão de Dilma.
Para o ex-presidente, as sucessivas demissões de ministros envolvidos em irregularidades têm como pano de fundo a "obsessão por formar maiorias hegemônicas, enfermidade petista incurável".
"Nem bem completado um ano de governo e lá se foram oito ministros, sete dos quais por suspeitas de corrupção. Pode-se alegar que quem nomeia ministros deve saber o que faz. Sem dúvidas, mas há circunstâncias", escreveu FHC.
Na nota, Dilma critica os argumentos do tucano, e afirma ter recebido uma "herança bendita".
"Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão", afirma a petista, citando episódios da gestão tucana na Presidência.
Para o assessor de FHC Xico Graziano, ao divulgar a nota, Dilma "passou o recibo".
Em nota, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, criticou Dilma.
"Apesar de ter demitido quase metade dos ministros, de ter chacoalhado a Petrobras, ela faz de conta que não aconteceu nada. Faz de conta que os ministros que vieram do governo passado eram bons, que as práticas de antes eram limpas e que foi a força da gravidade que a fez mudar a diretoria da Petrobras, não a constatação de que a empresa ia e continua muito mal. Nós entendemos a presidente. O importante é que a senhora trabalhe direito e não fique apenas nas palavras", afirmou o tucano.
Roberto Stuckert Filho - 17.mai.2012/PR
Dilma ao lado de Lula e FHC (à dir.) em evento em Brasília
EXEMPLO
No artigo, FHC centra suas críticas no antecessor e padrinho político de Dilma, citando, inclusive, entrevista recente do ex-presidente ao jornal "New York Times".
"Mas não foi só isso que Lula deixou como herança à sucessora. Nos anos de bonança, em vez de aproveitar as taxas razoáveis de crescimento para tentar aumentar a poupança pública e investir no que é necessário para dar continuidade ao crescimento produtivo, preferiu governar ao sabor da popularidade."
Dilma rebate afirmando que assumiu um "país mais justo e menos desigual" além de "mais respeitado" no exterior.
Ao elogiar seu antecessor, Dilma ainda alfineta FHC. "[Lula é] Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista".
Na gestão do tucano na Presidência, o Congresso aprovou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que permite a reeleição no país. Após a mudança, o próprio FHC foi reeleito em 1998.
"Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro", afirma a nota assinada por Dilma.
Clique para ler a íntegra do artigo de FHC
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DE DILMA
"Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo", creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.
Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes.
Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.
Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional. Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista.
Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro.
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil"
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