O adversário, José Serra, é o mesmo de 2010. O apadrinhado, Fernando Haddad, é tão neófito em urnas quanto era Dilma Rousseff. De diferente, apenas o palco reduzido –São Paulo em vez do Brasil— e o imprevisto Celso Russomanno a atrapalhar a idealizada disputa de dois pólos –PT versus PSDB.
Devolvido ao convívio com o microfone, seu melhor afrodisíaco, Lula exibiu a intenção de produzir no gogó a polarização que o pedaço do eleitorado pró-Russomanno lhe sonegou. Em discurso transmitido ao vivo pela internet, dirigiu-se a cerca de 3 mil militantes sindicais nesta terça (11). Foi sua estréia em atos públicos da campanha paulistana. Lula concentrou-se em Serra. Foi mimetizado por Haddad, que falou depois dele.
Em certos momentos, Lula carregou no veneno. “A palavra gestor é muito usada pelos tucanos”, disse a alturas tantas. “Eu nem bem entedida o que diabo era isso. Aí eu fiquei sabendo que era o cara que sabia administrar. Apareceu o choque de gestão. Eu disse: puxa vida, vai voltar a tortura no Brasil? Choque?!?”
Lula disse ter descoberto que o “choque” do PSDB também envolve suplícios: demissão, redução de salários, descaso com os mais pobres. Pôs-se, então, a realçar as “diferenças” entre a Era FHC e seus dois reinados. Apostou, segundo disse, noutro tipo de “eficiência”: a “competência administrativa” a serviço do ser humano.
Foi com “esse espírito”, segundo disse, que optou por convencer o PT a aceitar Haddad como candidato. “Não pensem que foi uma tarefa fácil”, realçou. “Muita gente dizia pra mim: ‘ô, Lula, o Fernando Haddad nem cumprimenta a gente’. E eu respondia: é porque ele tem vergonha, ele é tímido, não está habituado. A Dilma também era assim. Ela abraçava as pessoas de um jeito que eu dizia: ô, Dilma, aperta! Ela apertou. E gostou.” Haddad fará o mesmo, prometeu.
Lula içou 2010 ao topo da memória: “Na campanha da Dilma, uma coisa que discutimos com nossos aliados era se a campanha deveria terminar no enfrentamento direto com nosso adversário ou se precisava ter mais candidaturas para garantir o segundo turno. Achamos que era o enfrentamento direto. E deu certo a tese.”
Quanto a 2012, declarou: “Eu achava que era preciso construir uma candidatura nova em São Paulo. Alguém que nunca tivesse disputado cargo, mas que tivesse compromisso com o partido” e tudo o que vem junto com a sigla: o movimento social, os sindicatos, os moradores de rua e, sobretudo, a militância.
Num instante em que o Datafolha informa que Haddad está a três pontos de Serra, Lula adulou o militante. Equiparou-o à torcida de times como Flamengo e Corinthias: o militante é “um jogador a mais”, um personagem que “faz a diferença.” Pôs-se, então, a enaltecer Haddad e a gestão dele na pasta da Educação.
O ex-soberano reeditou um velho mote que costuma usar nos embates com o PSDB –os pobres contra os ricos. Disse estar cansado de gente que, em campanha, trata pobre “como se fosse rei.” Abertas as urnas, passa a tratá-lo “como se fosse bandido.” Embora já meio esgarçada, a retórica ainda eletrifica a plateia. “Achei que era preciso alguém que desse na campanha o sangue da novidade.”
Haddad foi ao microfone no vácuo do padrinho. Meio sem jeito, pediu desculpas antecipadas pelos efeitos da comparação. “É a primeira vez que eu falo em público depois do presidente Lula.” Na véspera, criticara Russomanno –um “salto no escuro”. Censurado por José Dirceu –“erro primário”— cuidou de ecoar Lula, concentrando-se em Serra e no tucanato.
Grudou o antogonista a dois personagens que as pesquisas internas do PT apontam como aliados molestos: FHC e o prefeito Gilberto Kassab. Sobre FHC, disse que, “catedrático”, tirou milhões do orçamento da Educação. Lula, “o operário”, restituiu “cada centavo”. Quanto a Kassab, apresentou-o como um legado de Serra à cidade de São Paulo.
“Nao é só o fato de ter abandonado a prefeitura que é grave, é o fato de ter abandonado lá o Kassab, que não tem a menor vocação para administrar o que quer que seja…” Referiu-se a Serra como “prefeito de meio mandato, de meio expediente.” Acusou-o de espalhar “mentiras” sobre o “bilhete único mensal”, cereja de sua plataforma eleitoral.
De resto, Haddad declarou que o rival tucano prevalecera sobre Marta Suplicy, em 2004, enrolado na bandeira da saúde. Hoje, disse Haddad, metade dos paulistanos enxerga justamente na área da saúde as principais debilidades no rol de serviços prestados pela prefeitura.
Segundo o Datafolha, Russomanno oscilou três pontos para baixo. Mas continua a liderar a corrida, agora com 32%. Serra escorregou um ponto para baixo. Foi a 20%. Haddad oscilou um ponto para cima: 17%.
Estatisticamente, continuam tecnicamente empatados. Mas a distância entre os dois encurtou-se de cinco para três pontos. Quer dizer: a polarização ansiada por Lula transferiu-se para a disputa pela vice-liderança. Vale um bilhete único para o segundo turno.
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