DESGOVERNO – Jatene ignora concursados
Há certas atitudes que desmentem  biografias ou dizem tudo sobre elas. No caso do governador tucano Simão Jatene,  por exemplo, não se pode dizer que surpreenda seu recorrente menosprezo ao drama  dos concursados, um contingente calculado em 4.500 pessoas à espera de nomeação,  cujos apelos voltou a ignorar solenemente em sua passagem por Santarém, a  pretexto dos 350 anos do município, comemorados quarta-feira, 22. Diante da  inauguração de 15 novas máquinas de hemodiálise pelo governador, no Hospital  Regional do Baixo-Amazonas, enfermeiros, técnicos em enfermagem e outros  profissionais de saúde, apoiados por um carro-som, fizeram um protesto, portando  faixas, cartazes e nariz de palhaço, reivindicando a nomeação dos concursados (foto). O truculento magote de  seguranças do governador tucano tratou de impedir o acesso dos manifestantes a  Jatene, restando-lhes os acenos, com ares de balela, de uma audiência, em data,  hora e local indefinidos, e ainda assim condicionada ao fim do  protesto.
A imposição da tucanalha, que  condicionava um eventual acesso dos manifestantes a Jatene a suspensão do  protesto, foi por estes peremptoriamente descartada. O que não intimidou os mais  afoitos, que prestaram-se ao patético papel de moleques de recado, tal qual  ocorreu com o próprio secretário estadual de Saúde, Hélio Franco, e o deputado  tucano Alexandre Von. Ambos foram ao encontro dos manifestantes, propondo  conversar “oportunamente” com eles, desde que o protesto fosse imediatamente  suspenso, uma condição a priori rejeitada. Mas o engodo palaciano não ficou por  aí. Ele incluiu até a aparição de um suposto assessor de imprensa de Simão  Jatene, de identidade desconhecida, acenando com o “direito” a um suposto  encontro de 20 minutos dos manifestantes com Simão Jatene – sem porém definir  data, hora e local da reunião -, para o qual a condição sine qua non seria que  abortassem o protesto. Ao ver rejeitada a “conversa para boi dormir”, conforme  definição de um dos manifestantes, o pretenso jornalista, visivelmente irritado,  escafedeu-se.
DESGOVERNO – Despautérios em série
Um capítulo à parte, no protesto dos  concursados em Santarém, foram os despautérios em série, protagonizados pelo  secretário estadual de Saúde, Hélio  Franco (foto, com os manifestantes), e pelo deputado Alexandre Von, do PSDB  e que tem em Santarém seu principal reduto eleitoral. Ambos, no desabafo dos  militantes da Asconpa, a Associação dos Concursados do Pará, mandaram os  escrúpulos às favas e dispararam uma avalancha de sandices, que ofendem a  inteligência e o decoro. Algo tanto mais surpreendente no caso de Franco, que  fixou a imagem de um médico competente e um administrador sério, desconstruída  agora, no comando da Sespa, a Secretaria de Estado de Saúde  Pública.
Dentre outras pérolas, o secretário  estadual de Saúde declarou, conforme os manifestantes, que o concurso público  para o Hospital Regional do Baixo Amazonas teria sido “uma grande bobagem, um  erro que não deveria ter sido feito, por ter sido mal estudado previamente".  “Para nós, o erro a que se refere o secretário de Saúde diz respeito a  assinatura do contrato com a Pró-Saúde, que administra mal o Hospital Regional,  não é fiscalizada, recebe dinheiro para isso e ainda se dá o direito de não  nomear os concursados”, retruca José Emílio Almeida, presidente da Ascopa, que  vê na situação um episódio clássico de “improbidade  administrativa”.
Quanto a Alexandre Von, os  manifestantes observam que ele levou ao paroxismo o escárnio diante do drama dos  concursados à espera de nomeação, claramente postergada pelo governador Simão  Jatene. O parlamentar tucano simplesmente propôs, candidamente, que os  concursados desistam das suas nomeações e assinem contrato trabalhista com a  Pró-Saúde. “Isso porque, segundo o deputado tucano, o governo não pode ferir um  contrato feito com a Pró-Saúde, ainda que sejam transgredidos os direitos  constitucionais dos concursados!”, indigna-se José Emílio Almeida, o presidente  da Asconpa. “O deputado também propôs que os concursados assumam cargos nos  pólos da Sespa, mesmo que esses pólos estejam situados em localidades distantes,  bem longe de Santarém”, acrescenta Almeida.
DESGOVERNO – Imprensa santarena amordaçada
O mais grave, de acordo com denúncia  da Asconpa, é que o governo Simão Jatene aparentemente comprou, em troca de  verba publicitária, o silêncio da imprensa santarena. “Vários canais de  televisão de Santarém estiveram presentes no local e cobriram o protesto,  inclusive entrevistando os concursados. No entanto, nenhuma notícia sobre a  manifestação foi veiculada nos telejornais de Santarém”, relata José Emílio  Almeida, o presidente da Asconpa, repercutindo denúncia dos concursados  santarenos.
Seja como for, acrescentou Almeida,  os concursados estão irredutíveis na luta pelos seus direitos. “Para nós, vale o  que está escrito no edital do concurso e no Diário Oficial do Estado. Esses  documentos nos garantem direitos que não podem ser ignorado pelas autoridades”,  acentua, arrematando.
ALEPA – O portfolio de Ana Mayra na Europa
Alegar precedentes, para justificar  a pilhagem aos cofres públicos, segue a lógica do malfeitor. Por isso não  surpreende a tentativa de desqualificar a denúncia do blog sobre a tramóia da  qual foi beneficiária a jovem advogada Ana Mayra Leite, flagrado cursando  mestrado em Lisboa, Portugal, a despeito de ocupar um cargo comissionado na  Alepa, a Assembléia Legislativa do Pará, embolsando regularmente seus  vencimentos, apesar de ausente do Palácio Cabanagem. Abrigada no gabinete da  deputada peemedebista Simone Morgado - 1ª secretária da Alepa e de estreitos  vínculos com o ex-governador Jader Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará –, a  fantasminha vinha tendo sua pretensa freqüência atestada mensalmente, um  agravante a mais na tramóia.
A permanência de Ana Mayra em  Portugal, ao mesmo tempo em que embolsava indevidamente os vencimentos pagos  pela Alepa, mediante fraude na lista de frequência, está atestado na página que  mantém no Facebook, um site de relacionamento na internet. E pode ser ilustrado  pelas fotos da temporada européia da jovem advogada, conforme o portfolio da  fantasminha no Facebook. Ana Mayra, ao que parece, teve em quem se inspirar. Seu  pai, o advogado José Leite, é também servidor da Alepa, lotado na  Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembléia Legislativa,  embora por muito tempo não fosse visto no Palácio Cabanagem, no qual voltou a  circular após o imbróglio envolvendo a filha. A mãe da jovem, Márcia Leite, é  igualmente servidora da Alepa e também lotada na Comissão de Fiscalização  Financeira e Orçamentária. Márcia e José Leite, diga-se, são militantes  históricos do PMDB.
Comprovada  a denúncia, aguarda-se, agora, que o erário seja ressarciado, diante da pilhagem  que representou o dinheiro indevidamente pago pela Alepa para Ana Mayra Leite.  Uma obrigação que cabe à deputada Simone Morgado, sem a leniência da qual,  aparentemente, o embuste não poderia ter sido perpetrado. Sem esquecer,  naturalmente, das providências legais, diante da fraude na lista de frequência,  que mensalmente atestava a suposta presença da jovem advogada.
 


 


 
 
